Cerca de ⅓ dos municípios de SC estão abaixo do índice nacional de biometria da Justiça Eleitoral
Dos 295 municípios catarinenses, 95 têm menos de 87,01% de dados biométricos coletados

O Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC) fez um levantamento de todos os municípios do estado que estão com índice de biometria abaixo do percentual nacional — de 87,01%. Com dados coletados em 1º de setembro de 2025 pela Secretaria da Corregedoria Regional Eleitoral de Santa Catarina — apesar do estado ter 87,94% de eleitorado com biometria —, o levantamento aponta que, dos 295 municípios catarinenses, 95 estão com o índice abaixo da média brasileira.
Cidades de SC com menor percentual de biometria
Dentre os 95 municípios “no vermelho”, há 5 que possuem os menores percentuais de biometria coletada até a data de levantamento dos dados. São eles:
- Praia Grande: índice de biometria em 62,54%. Com eleitorado total de 6672 pessoas aptas para votar, 2499 não possuem biometria;
- Urupema: índice de biometria em 63,42%. Com eleitorado total de 2488 pessoas aptas para votar, 910 não possuem biometria;
- São João do Sul:índice de biometria em 63,70%. Com eleitorado total de 7203 pessoas aptas para votar, 2615 não possuem biometria;
- Bom Jardim da Serra:índice de biometria em 64,29%. Com eleitorado total de 3873 pessoas aptas para votar, 1383 não possuem biometria;
- Jacinto Machado:índice de biometria em 64,62%. Com eleitorado total de 8928 pessoas aptas para votar, 3159 não possuem biometria.
De acordo com Carlos Valério Gerber Wietzikoski, coordenador de Gestão do Cadastro Eleitoral do TRE-SC, esses cinco municípios somam 10 mil pessoas sem dados biométricos. “São locais sem sede de cartório eleitoral, situação que exige o deslocamento da população a outros municípios. Por essa razão, a Justiça Eleitoral catarinense, preocupada com o exercício da cidadania por todas as pessoas, implementou o programa ‘Justiça Eleitoral em Movimento’”, explica.
Desde 2023, o programa JE em Movimento leva atendimento presencial a todos os 219 municípios catarinenses que não possuem cartório eleitoral. Só no primeiro semestre de 2025, foram realizados 2.783 atendimentos em 22 municípios de SC.
Cidades com índice baixo de biometria por regiões intermediárias de SC
O levantamento da Secretaria da Corregedoria Regional Eleitoral de Santa Catarina também aponta quais são os municípios com índice baixo de biometria conforme as sete regiões intermediárias catarinenses — conforme classificação do IBGE desde 2017.
Dos 109 municípios da região intermediária de Chapecó, 20 estão abaixo da média nacional de biometria. Já entre as 16 cidades da região intermediária de Caçador, quatro estão “no vermelho”. Paralelamente, dos 25 municípios da região intermediária de Joinville, 12 estão abaixo do índice nacional. Na região intermediária de Blumenau, das 60 cidades, 22 também estão abaixo da média. Enquanto isso, dos 24 municípios da região intermediária de Lages, 10 estão abaixo do índice nacional. Já nas 44 cidades da região intermediária de Criciúma, 26 estão abaixo do índice brasileiro de coleta de biometria. Por fim, apenas duas cidades dentre as 17 da região intermediária de Florianópolis estão abaixo da média.
Ao olhar para os municípios catarinenses a partir da divisão de regiões intermediárias do IBGE, a intermediária de Criciúma é a que possui — percentualmente — mais municípios com índice de biometria abaixo da nacional: 59,09%. Seguida pela intermediária de Joinville (48%), de Lages (41,66%), de Blumenau (36,66%), de Caçador (25%), de Chapecó (18,34%) e de Florianópolis (11,76%).
Independentemente das regiões intermediárias ou imediatas de Santa Catarina, o coordenador de Gestão de Cadastro Eleitoral do TRE-SC ressalta que os “municípios com maiores índices de coleta biométrica são aqueles que concluíram os processos de revisão do eleitorado, quando todos os eleitores e eleitoras foram convocados à coleta, sob pena de cancelamento do título eleitoral”.
Carlos Gerber também destaca que essa revisão de eleitorado, inicialmente, era programada para ocorrer em todos os municípios catarinenses. Contudo, em 2020, por conta da pandemia de Covid-19, foi descontinuada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “No âmbito do TRE-SC, outras medidas têm sido adotadas. Com a retomada da coleta biométrica em março de 2023, essas medidas, que incluem o programa “JE em Movimento” e campanhas de divulgação, fizeram o índice estadual crescer 11,2% no período de 2 anos e meio, passando de 76,74% para os atuais 87,94%”, ressalta.
Apesar desse crescimento do índice de biometria estadual, que está 0,93% acima da média nacional, a Justiça Eleitoral de Santa Catarina mantém atendimentos do JE em Movimento tanto em municípios que não possuem cartórios eleitorais e estão abaixo da média nacional, quanto em cidades mais populosas, que possuem bairros com alta densidade populacional e que, mesmo no município, estão distantes dos cartórios eleitorais. Algumas cidades catarinenses com essas características, inclusive, foram detalhadas no levantamento abaixo.
Cidades de SC com maior número absoluto de eleitores sem biometria
O mesmo levantamento também aponta quais são os municípios catarinenses que possuem o maior número absoluto de eleitores que ainda não coletaram a biometria. Nesse caso, a listagem inclui, também, cidades com percentuais acima da média nacional (87,01%), mas que, por serem mais populosas, ainda possuem um grande contingente de eleitores sem os dados biométricos. São elas:
- Criciúma: índice de biometria em 75,38%, abaixo da média nacional. Com eleitorado total de 148371 pessoas aptas para votar, 36525 não possuem biometria;
- Chapecó: índice de biometria em 81,07%, abaixo da média nacional. Com eleitorado total de 157494 pessoas aptas para votar, 29809 não possuem biometria;
- Lages:índice de biometria em 77,84%, abaixo da média nacional. Com eleitorado total de 122321 pessoas aptas para votar, 27107 não possuem biometria;
- Florianópolis:índice de biometria em 93,82%, acima da média nacional. Com eleitorado total de 402146 pessoas aptas para votar, 24856 não possuem biometria.
Mesmo com cartórios eleitorais instalados nestes municípios, que realizam atendimento permanente à população local, Carlos Gerber destaca que há ações específicas previstas no programa ‘JE em Movimento. “Como atendimento em bairros e/ou locais distantes dentro do próprio município. Assim como, em pontos estratégicos, como em escolas, neste caso, direcionado aos estudantes, professores e funcionários. Em Florianópolis, por exemplo, foram realizados atendimentos em diversos bairros, inclusive em estacionamento de supermercado no Norte da Ilha”, complementa o coordenador de Gestão de Cadastro Eleitoral do TRE-SC.
O impacto da pandemia no índice de biometria por faixa etária do eleitorado de SC
Das 5.514.996 pessoas aptas a votar em Santa Catarina, 87,94% já fez a coleta dos dados biométricos. Contudo, 12,06% seguem sem a biometria. No levantamento feito pela Justiça Eleitoral catarinense, também é possível estratificar essa parte do eleitorado por faixa etária e em dois grupos: votos facultativos (15 a 17 anos e mais de 70 anos) e votos obrigatórios (18 a 69 anos).
O primeiro grupo corresponde a 11,03% do eleitorado total do estado e, neste grupo, os eleitores e eleitoras de 15 a 17 anos correspondem a única faixa etária com 100% da biometria coletada. Isso porque, a emissão do primeiro título eleitoral inclui a coleta obrigatória dos dados biométricos — digitais, foto e assinatura.
Paralelamente, nesse grupo há também as menores porcentagens de biometria coletada, nos eleitores de 100 anos ou mais (1,91%) e 95 a 99 anos (11,73%). Apesar dessa disparidade, os eleitores com votos facultativos sem biometria representam apenas 17,50% do eleitorado catarinense que também não fizeram essa coleta de dados biométricos.
Assim, dos 665.139 eleitores e eleitoras sem biometria em SC, 548.692 são pessoas que, pela faixa etária, são obrigadas a votar. Nesse grupo de voto obrigatório, que vai de 18 a 69 anos, há uma situação específica: as porcentagens de biometria em cada faixa etária variam de 89 a 96%, com exceção para o eleitorado de 19 anos; 20 anos; e 21 a 24 anos.
Essas três faixas etárias possuem índice de biometria coletada de 73,16% (19 anos); 64,31% (21 a 25 anos) e 60,95% (20 anos). Para o coordenador da Gestão do Cadastro Eleitoral do TRE-SC, esses números são reflexo da pandemia de Covid-19 e da suspensão da coleta biométrica na Justiça Eleitoral, por razões sanitárias, de março de 2020 a março de 2023.
“Durante esses 3 anos, todos os atendimentos não puderam ter a biometria coletada, impactando principalmente os jovens que solicitaram o primeiro título. Por isso, essa faixa etária possui hoje os menores percentuais e necessitam buscar atendimento presencial em qualquer cartório eleitoral”, orienta.
Por fim, o título eleitoral não tem a função única do voto. Hoje, há integração dos sistemas e os dados biométricos coletados pela Justiça Eleitoral podem ser aproveitados para o acesso de outros serviços públicos, como o “nível ouro” do gov.br, necessário, por exemplo, para algumas operações no INSS e na Receita Federal.
Histórico da biometria na JE brasileira
Há 25 anos a Justiça Eleitoral brasileira adotou, em todo o território nacional, as urnas eletrônicas para a escolha dos representantes. Apesar da coleta dos votos ser informatizada, até então, a identificação do eleitorado dependia totalmente dos mesários.
Contudo, esse cenário começou a mudar em 2008, quando a biometria foi testada em São João Batista, município catarinense, e em Fátima do Sul (MS) e Colorado do Oeste (RO).
O teste foi um sucesso e a Justiça Eleitoral decidiu ampliar para 60 o número de municípios que utilizariam a biometria para identificação de eleitores e eleitoras. Progressivamente, o número do eleitorado com biometria aumentou no Brasil e em 2025, o número total de eleitoras e eleitores com dados biométricos cadastrados na JE é de 134.692.917.
Texto por Aline Ramalho
Mapa por Kelly Pantoja
Assessoria de Comunicação Social